terça-feira, 24 de agosto de 2010

TIPOS DE CONTO

0 comentários

Aew Pessoal! Postagem sobre os tipos de contos trabalhados!

Conto Rural ou Regionalista – Tipo de conto voltado a um universo rural ou sertanejo, distante, que normalmente utiliza-se de tons expressivos que marcam a fala caipira, gaúcha, nordestina (regionalista). Bernardo Élis, Guimarães Rosa, J. J. Veiga, Ronaldo Correia de Brito são alguns representantes desse estilo.
Conto Alegórico ou Fantástico – Conto que foge a racionalidade, ao que é possível, a realidade. Aquilo que é absurdo, não-real. Franz Kafka é um representante dessa “Literatura do absurdo”, no Brasil podemos citar nomes como Murilo Rubião, Moacyr Scliar, J. J. Veiga.
Conto Psicológico ou Intimista – É o conto que explora a relação do indivíduo com o mundo ou consigo mesmo. A narrativa enfatiza a perspectiva subjetiva, desnudando (ou não) os mistérios que se escondem no interior do ser humano, causando muitas vezes a revelação, epifania. São contos que fazem uma espécie de sondagem na alma do ser, com intensa carga reflexiva, um “monologo interior”. Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Samuel Rawet, Caio Fernando Abreu.
Conto de Costumes ou Acontecimento – Tem como característica a reprodução quase que documental da realidade e são normalmente descritivos. Apresentam fatos isolados do cotidiano através de técnicas especificas como a ironia, o humor ou o sarcasmo, sendo muito próximos de uma crônica, podendo apresentar críticas sociais. Machado de Assis, Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, João Antonio.
Conto Policial ou de Suspense – Caracteriza-se pela presença do crime, da investigação e da revelação de fatos. Neste tipo de conto, o foco remete para o processo de esclarecimento do mistério por um personagem “detetive” (seja ele profissional ou não) e todas as ações se encaminham diretamente para o desfecho.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Saber Argumentar

1 comentários

Pessoal, trouxe pra vocês um vídeo que demonstra a importância da argumentação. Quando nós temos domínio do que falamos, propriedade daquilo que queremos dizer, tudo se torna mais fácil na composição de qualquer texto (de qualquer gênero). Se você sabe argumentar, tem coêrencia nos argumentos e sabe se expressar, tem grandes chances de fazer uma bela produção, mas o contrário...


Fica essa dica pro fim de semana.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Paixão de Varanda - Saulo Dourado

0 comentários

Ela estava debruçada na varanda, com a mão aberta sob o queixo, observando o choque entre os edifícios e o céu numa serenidade de domingo. Linda - cabelos com mechas violetas, boca pintada de saliva, pulseira de gotas que cintilam e uma camisola do Mickey Mouse até os joelhos. Linda - mesmo quando me avistou num susto, abafou o grito e cedeu um passo para trás. Conheci o amor da minha vida enquanto saltava do vigésimo andar.


Disponível no Blog do Autor.

Uma Vela Para Dario - Dalton Trevisan

0 comentários

Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva, e descansou na pedra o cachimbo.

Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.

Ele reclinou-se mais um pouco, estendido agora na calçada, e o cachimbo tinha apagado. O rapaz de bigode pediu aos outros que se afastassem e o deixassem respirar. Abriu-lhe o paletó, o colarinho, a gravata e a cinta. Quando lhe retiraram os sapatos, Dario roncou feio e bolhas de espuma surgiram no canto da boca.

Cada pessoa que chegava erguia-se na ponta dos pés, embora não o pudesse ver. Os moradores da rua conversavam de uma porta à outra, as crianças foram despertadas e de pijama acudiram à janela. O senhor gordo repetia que Dario sentara-se na calçada, soprando ainda a fumaça do cachimbo e encostando o guarda-chuva na parede. Mas não se via guarda-chuva ou cachimbo ao seu lado.

A velhinha de cabeça grisalha gritou que ele estava morrendo. Um grupo o arrastou para o táxi da esquina. Já no carro a metade do corpo, protestou o motorista: quem pagaria a corrida? Concordaram chamar a ambulância. Dario conduzido de volta e recostado á parede - não tinha os sapatos nem o alfinete de pérola na gravata.

Alguém informou da farmácia na outra rua. Não carregaram Dario além da esquina; a farmácia no fim do quarteirão e, além do mais, muito pesado. Foi largado na porta de uma peixaria. Enxame de moscas lhe cobriu o rosto, sem que fizesse um gesto para espantá-las.

Ocupado o café próximo pelas pessoas que vieram apreciar o incidente e, agora, comendo e bebendo, gozavam as delicias da noite. Dario ficou torto como o deixaram, no degrau da peixaria, sem o relógio de pulso.

Um terceiro sugeriu que lhe examinassem os papéis, retirados - com vários objetos - de seus bolsos e
alinhados sobre a camisa branca. Ficaram sabendo do nome, idade; sinal de nascença. O endereço na carteira era de outra cidade.

Registrou-se correria de mais de duzentos curiosos que, a essa hora, ocupavam toda a rua e as calçadas: era a polícia. O carro negro investiu a multidão. Várias pessoas tropeçaram no corpo de Dario, que foi pisoteado dezessete vezes.

O guarda aproximou-se do cadáver e não pôde identificá-lo — os bolsos vazios. Restava a aliança de ouro na mão esquerda, que ele próprio quando vivo - só podia destacar umedecida com sabonete. Ficou decidido que o caso era com o rabecão.

A última boca repetiu — Ele morreu, ele morreu. A gente começou a se dispersar. Dario levara duas horas para morrer, ninguém acreditou que estivesse no fim. Agora, aos que podiam vê-lo, tinha todo o ar de um defunto.

Um senhor piedoso despiu o paletó de Dario para lhe sustentar a cabeça. Cruzou as suas mãos no peito. Não pôde fechar os olhos nem a boca, onde a espuma tinha desaparecido. Apenas um homem morto e a multidão se espalhou, as mesas do café ficaram vazias. Na janela alguns moradores com almofadas para descansar os cotovelos.

Um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu ao lado do cadáver. Parecia morto há muitos anos, quase o retrato de um morto desbotado pela chuva.

Fecharam-se uma a uma as janelas e, três horas depois, lá estava Dario à espera do rabecão. A cabeça agora na pedra, sem o paletó, e o dedo sem a aliança. A vela tinha queimado até a metade e apagou-se às primeiras gotas da chuva, que voltava a cair.


Texto extraído do livro "Vinte Contos Menores", Editora Record – Rio de Janeiro, 1979, pág. 20.